à meia-noite bebemos champanhe, beijámos e abraçámos as pessoas que queremos mais perto nos 365 dias seguintes, demos um passo com o pé direito, comemos 12 passas e pedimos 12 desejos. pedimos uma vida melhor. dissemos que não íamos comer mais porcarias; que íamos passar mais tempo de qualidade com os amigos, os novos e os de sempre, e com AQUELA pessoa; que não íamos adiar tudo a que nos comprometemos, tanto a nível profissional, como pessoal - desta é que fazemos a tal viagem, desta é que mudamos de visual, desta é que reservamos mais tempo para relaxar. prometemos ser pessoas melhores, desejámos um mundo melhor. não nos faltaram ideias quando comemos as 12 passas.

ainda só passaram 30 e tal dias, pouco mais de um mês... e o que já cumprimos até agora?

se em tão pouco tempo parecemos já ter esquecido aquele dia (mais concretamente, aquele momento), o que será de nós daqui a 12 meses? vamos ter de repetir os 12 desejos. e claro que nos vamos esquecer deles uns dias depois.

sonhamos alto, delineamos os planos ideais daquilo que queremos que seja a nossa vida, somos ambiciosos e fazemos estúpidas listas de coisas-a-fazer, de desejos e de objectivos.

para depois, acometidos pela preguiça, e seduzidos pelos demais pecados da nossa sociedade, deitarmos tudo por terra. bem, não tudo. apenas os adiamos. "para amanhã, para quando tiver mais tempo, para 2ª feira..."

chega. a vida é hoje. amanhã já é tarde para seres feliz ontem.

"não queiras, Lídia, edificar no espaço
que figuras futuro, ou prometer-te
amanhã. cumpre-te hoje, não esperando.
tu mesma és tua vida.
não te destines, que não és futura.
quem sabe se, entre a taça que esvazias,
e ela de novo enchida, não te a sorte
interpõe o abismo?"

Ricardo Reis

(estranho ataque moralista desenxabido, perdoem-me)